26 de set.6 min para ler

O que a volta da banda Oasis nos ensinou sobre marketing estratégico?

Riscos, oportunidades, fidelização do público são alguns dos pontos que permeiam o retorno da banda

Se você não estava vivendo em nenhum lugar inóspito do nosso planeta no final do mês de agosto, com certeza ouviu ou viu algo sobre o retorno do Oasis, uma das mais icônicas, emblemáticas e polêmicas bandas de rock de todos os tempos.

Mesmo que você não goste de rock, em algum momento desde os anos 1990 (se você não é dessa época, dê um Google para entender”), você deve ter ouvido sobre a briga dos irmãos Gallagher.

Liam e Noel, líderes da banda de rock inglesa Oasis, deram uma trégua em 16 anos de insultos e xingamentos para, enfim, fazer uma “reunião” da banda, algo tão esperado e, ao mesmo tempo, utópico para a maioria dos fãs da banda.

Deixando de lado todas as questões que podem ter motivado esse retorno (dinheiro, holofote, nostalgia, mais fama), eles souberam fazer uma estratégia de marketing assertiva para que praticamente o mundo todo parasse no dia do anúncio.

Aliás, essa estratégia não é tão nova assim para a banda. Em 1997, no lançamento do álbum Be Here Now, eles se utilizaram de diversos recursos de marketing para maximizar o impacto do álbum, diga-se de passagem, em uma época em que não tínhamos as redes sociais para potencializar tudo isso.

E quais foram as abordagens utilizadas por eles na época?

Campanha de mídia massiva: a banda aproveitou sua enorme popularidade para gerar uma grande quantidade de cobertura na mídia. Isso incluiu entrevistas em rádios, programas de TV e revistas, o que ajudou a criar uma enorme antecipação para o álbum.
Lançamento de singles: foram lançados singles antes do álbum, como "D'You Know What I Mean?" e "Stand By Me", que foram amplamente promovidos e tocados nas rádios. Os singles serviram como uma prévia do álbum e ajudaram a manter o interesse no hype.
Publicidade e propaganda: o Oasis usou uma combinação de publicidade em revistas, outdoors e promoções em rádio para aumentar a visibilidade do álbum. As campanhas publicitárias utilizaram ativações como a divulgação de datas sem textos adicionais para criar a expectativa e o desejo no fandom.
Capa e design: a capa do álbum, que apresentava uma imagem grandiosa e um design chamativo, foi parte integral da estratégia de marketing. A arte foi projetada para se destacar e atrair a atenção tanto nas lojas.
Teasers: a banda utilizou a divulgação de teaser com elementos gráficos da identidade do novo álbum, assim como, imagens enigmáticas, como foi o caso do calendário com a data do lançamento.

E em 2024: repetição de uma fórmula que deu certo ou ativação do botão nostalgia?

O retorno da banda sacudiu não só mundo da música, mas a mídia como um todo. Os principais veículos de notícia informaram sobre o retorno da banda, mostrando a relevância que o Oasis ainda tem hoje em dia, não só na cena musical, mas nos negócios e no marketing também.

E nesse contexto, muitas das estratégias de marketing utilizadas no passado se assemelham ao que a banda fez no anúncio do retorno.

Teasers e anúncios: o retorno da banda foi precedido por teasers enigmáticos e anúncios cuidadosamente planejados para criar um clima de mistério. Isso incluiu pistas nas redes sociais, sites oficiais e em campanhas de mídia, repetindo a fórmula do calendário com a data do anúncio da banda em 1997. Poderia ser qualquer coisa, inclusive, mais um álbum comemorativo, porém, o resultado pretendido foi alcançado, uma vez que gerou uma enorme expectativa em torno dessa informação.
Campanhas digitais: para criar um buzz ainda maior, os investimentos em campanhas de mídias digitais foram massivos, fazendo com que o assunto “retorno” permanecesse no hype por muitos dias, inclusive, para aquecer ainda mais a venda de ingressos para os shows no Reino Unido.
Engajamento: a comoção em meio ao retorno da banda fez com que o engajamento em plataformas como Instagram e X (ex-Twitter) fossem ainda maiores, não só no perfil oficial da banda, como também nos perfis de Noel e Liam Gallagher, aumentando a comunidade de fãs ao redor do mundo. Inclusive, essa foi uma estratégia conjunta para mexer, não somente com os fãs do passado, mas com os novos, conquistados com suas carreiras solo.

Como podemos notar, não foi somente o elemento nostalgia, o responsável pelo sucesso das estratégias de marketing adotadas pela banda. Houve, sim, uma repetição de fórmula, espelhando aquilo que deu certo no passado e mais do que isso, aquilo que é característica da banda.

Seja qual for a estratégia, ela precisa estar alinhada ao perfil do seu negócio, às suas mensagens-chave, ao perfil do seu público e às características do seu produto. Não adianta nada criar uma história e passar a mensagem de quem você não é. A comunicação e a estratégia precisam andar lado a lado aqui.

Podemos aprender algo com a estratégia de marketing do Oasis?

Em primeiro lugar, vamos falar do marketing de influência. A banda influenciou uma geração inteira de pessoas. Tanto é verdade, que o comportamento agressivo dos irmãos, foi transferido para os fãs. Não era incomum vermos brigas e muita confusão durante os shows que, aliás, bem pareciam com a atmosfera de grandes jogos de futebol, uma paixão dos dois, inclusive.

Com suas carreiras solo, os dois conseguiram uma renovação na base de fãs. Não significa perda, mas sim, manutenção e ganho, algo tão importante quando estamos falando do ambiente digital e das redes sociais, mais especificamente.

Por conta dessa renovação de seguidores, a espera pelo retorno foi ainda maior e gerou ainda mais barulho. Dá até para pensar que foi tudo muito bem planejado, não é mesmo? E em se tratando dos irmãos Gallagher, tudo é possível e tudo poderia muito bem ser marketing.

De qualquer modo, a estratégia deu certo, fazendo com que a corrida por ingressos fosse gigantesca e o aumento do engajamento nas redes subisse a números estratosféricos e não acabou por aí.

A turnê foi denominada de “turnê mundial”, o que sugere que haverá shows fora do Reino Unido. Mas, quando? Em quais países? Haverá novas gravações? Quais músicos participarão dessa turnê, uma vez que o segundo guitarrista da primeira geração do Oasis toca na banda de Liam e o da segunda geração, toca com Noel?

Com certeza, todas essas perguntas têm uma resposta, porém, não para o público, ainda. E isso é proposital, uma vez que faz parte da estratégia, continuar gerando expectativa em torno da volta da banda.

E não podemos esquecer de falar sobre o marketing de experiência. Essa é uma modalidade que visa encantar o cliente (no caso, o público), entregando algo além do esperado, gerando uma experiência de encantamento baseada na emoção.

Significa dizer, que podemos esperar por muitas novidades vindas da banda? Acreditamos que sim, pois eles sabem muito bem como trabalhar a retenção e a fidelização do seu público. Afinal, o que explicaria tanta comoção depois de 20 anos do fim da banda?

O planejamento é a estratégia de sucesso!

Se você quer se inspirar nas estratégias adotadas pela banda, para fazer o seu negócio bombar, o planejamento é o caminho do sucesso. Mas não é só isso.

É preciso alinhar essa a estratégia que será adotada ao perfil do seu produto ou serviço, ao perfil do seu público, às suas mensagens-chave e à sua comunicação.

Não adianta nada aproveitar o buzz de vídeos virais editados com seus colaboradores complementando a cena do lado de cá, se esse não é o perfil do seu negócio e nem de quem compra de você.

A sua estratégia de marketing precisa estar alinhada ao que sua empresa representa, de dentro para fora, inclusive. Mais vale uma estratégia inovadora, mas simples e bem-feita, do que tentar inovar de forma “fake”, pois seu público irá perceber e você poderá ter o efeito inverso ao pretendido.

Se inspire em casos de sucesso, como os do Oasis, mas é importante saber aplicá-los à realidade do seu negócio, produto ou serviço.

Vivian Batizelli Koqui é especialista em comunicação e pós-graduada pela Escola de Comunicação e Arte (ECA/USP), com mais de 10 anos de experiência em marketing estratégico, social media, inteligência de mercado, ações de branding e performance digital.

Vivian Batizelli Koqui

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